segunda-feira, 16 de março de 2009

Mantra - Som Mágico

por Clélio Berti

O Yôga utiliza os sons através dos mantras. A palavra pode ser dividida em man (pensar) e a partícula tra (instrumento). Mantra pode ser qualquer som, sílaba, palavra ou frase que tenha um determinado poder. Portanto, não é qualquer som que é mântrico.

Afinal para que serve o mantra? Cada som mântrico possui uma propriedade específica. Temos mantras para despertar ou adormecer, para serenizar ou energizar, para facilitar a concentração e a meditação, para melhorar a
saúde ou até para matar. Veja o exemplo dado pelo Mestre DeRose no livro Yôga, Mitos e Verdades onde um sábio hindu, para preservar-se de um facínora, tê-lo-ia matado apenas com a emissão de um som (mantra).
Entretanto, uma das aplicações mais interessantes dos mantras é para desenvolver os chakras e despertar a kundaliní.

Quando trabalhamos com chakras (centros de energia) e kundaliní (energia criadora) e os desenvolvemos, conseguimos despertar em nós mesmos um poder absolutamente interessante. Os chakras concentram energia e distribuem-na para o organismo. Com os chakras desenvolvidos e cheios de energia, o indivíduo apresenta uma saúde excelente, e desenvolve os poderes interiores que, no Yôga, chamamos de siddhis. Quando kundaliní sobre da base da coluna para o alto da cabeça, estimula todos os chakras e produz o conhecimento perfeito de si mesmo e do universo que nos envolve. Através de sons, os mantras, podemos estimular essa energia avassaladora.

Entretanto, antes de estimular os chakras e despertar kundaliní, é necessário que os canais por onde a energia passa estejam limpos e desobstruídos. Esses canais são chamados nádís. Se os canais não estiverem
desobstruídos, quando a energia for passar e não conseguir, poderá haver um derrame dessa energia fora dos canais. Os efeitos desse derrame são, a nível energético, semelhante ao derrame de uma artéria que se rompe. O sangue derramado da artéria produz conseqüências físicas dependendo do órgão afetado. Se o derrame de sangue ocorre no cérebro, pode causar paralisia. Da mesma maneira, o derrame da energia pode causar prejuízos na esfera energética. Esses canais energéticos entopem por maus hábitos alimentares e, principalmente, por emoções e sentimentos viscosos. Cada emoção densa, como ódio, inveja, ciúme etc provoca resíduos nos canais energéticos (nádís).

Os mantras servem também para desobstruir as nádís. Toda vez que se vocaliza um mantra, produz-se o som audível e o ultra-som. Este, por vibração, provoca a limpeza dos canais energéticos.

Para o desenvolvimento dos chakras, os mantras atuam por ressonância. Quando produzimos um ultra-som que vibra na afinação dos chakras, eles reagem ao estímulo. Cada vez que produzimos o mesmo ultra-som, teremos um novo estímulo no chakra. Se o fizermos com constância, o chakra vai desenvolvendo-se e produzindo os efeitos a nível orgânico.

Como posso saber, se um som é mântrico ou não? Como posso saber, se o som produz efeito biológico ou não? No Yôga, os mantras foram desenvolvidos pelos Mestres ancestrais empiricamente. Eles observaram que determinados sons produziam os efeitos e os codificaram.

Não é suficiente uma frase escrita. Faz-se necessário vocalizar o som em determinada altura, com timbre definido, com a modulação correta e numa língua morta. A forma certa de aprender é escutar o mantra de um professor de Yôga formado e tentar reproduzi-lo com perfeição. Então, o praticante repete várias vezes e o Mestre corrige-o até a vocalização ficar perfeita.

Há vários tipos de mantras.

Kirtan é o tipo de mantra que possui várias notas musicais e várias palavras. O significado é cântico. É uma categoria de mantra para alegrar. Extroverte. Os efeitos são mais psicológicos que fisiológicos.

Japa possui uma só nota musical, uma só palavra, uma só sílaba. O significado é repetição. A idéia básica é repetir o som em intervalos regulares, no mesmo ritmo, na mesma freqüência, com o mesmo tom de voz. Os efeitos são mais fisiológicos que psicológicos. Introverte. Pode-se executar um kirtan no formato de japa, mas não é ideal. Quando um japa é executado com perfeição por uma quantidade de tempo razoável e repetido todos os dias, produz efeitos poderosos.

Bíja é um tipo especial de japa que desenvolve os chakras. O significado é
semente. É o som que sintetiza o som do chakra. Quando é executado, o bíja provoca a ressonância do chakra ativando-o. Para que produza efeitos deve-se repetir todos os dias, sistematicamente, por um bom período de tempo. A prática do bíja mantra requer uma série de cuidados. Os efeitos são muito poderosos, portanto, a cautela torna-se essencial. A vocalização dos bíjas não é para iniciantes. Você pode aventurar-se nesse universo somente após conversar com o seu instrutor de Yôga formado para saber, se você já está apto para essa prática. Os bíjas devem ser executados mantendo-se uma proporção. Os bíjas dos chakras superiores podem ser vocalizados mais vezes que dos chakras inferiores.

Para poder dedicar-se aos bíjas mantras, é necessário ter a alimentação preconizada pelo Yôga. Outro elemento importante é a administração das emoções. Ativar os chakras significa um aumento poderoso da energia interior. Portanto, o yôgi deve estar preparado para canalizar essa energia. Se você ainda possui emoções viscosas, como ódio, inveja, ciúme, ainda não
está na hora de trabalhar os bíjas mantras. Primeiro é necessário trabalhar essas emoções para, depois, ativar os chakras. O Yôga Antigo possui um recurso extraordinário para administrar as emoções: denomina-se bhúta shuddhi que é a purificação intensiva.

Vaikharí é o mantra vocalizado, audível. É importante vocalizar para que o Mestre possa corrigir o praticante.

Manasika é o mantra mental. Ou seja, ele não é vocalizado com o aparelho fonador, mas sim executado mentalmente. O mantra executado apenas mentalmente é mais poderoso e produz mais efeitos que o vocalizado com o aparelho fonador. Uma vantagem do mantra mental é que se pode vocalizar numa velocidade que seria impossível para o aparelho fonador. Shivánanda
recomenda que se execute o mantra ÔM quatrocentas vezes por minuto.

Um mantra especial é o mantra ÔM. Ele é o bíja-mantra do ájña chakra, ou seja, o som que desenvolve o centro de força responsável pela meditação, intuição, inteligência e premonição. É o mantra ideal para a prática de meditação. É o único som semente que pode ser vocalizado sem qualquer contra-indicação. É um mantra perfeitamente equilibrado.

Na meditação pelo som, pode executar o mantra ÔM verbal ou mentalmente. O praticante concentra-se no som e repete-o em intervalos regulares por um tempo de varia de acordo com o nível do praticante. Para os iniciantes, o tempo não deve ultrapassar cinco minutos. Para os veteranos, pode-se ficar até vinte minutos nessa prática. Mais que vinte minutos, só com a autorização do seu Mestre supervisor. Assim você executa japa, bíja e combina com meditação.

Os praticantes mais avançados podem combinar a vocalização do mantra ÔM com a visualização do símbolo do ÔM dourado pulsando no intercílio. Pode ser no ritmo dos batimentos cardíacos, ou, se mental, na velocidade sugerida por Shivánanda de quatrocentas vezes por minuto.

O livro Faça Yôga Antes que você Precise do Mestre De Rose, reconhecido pela seriedade do seu trabalho, apresenta trinta e quatro mantras diferentes. São mantras na categoria de kirtans, ou seja, extroversores. Para que você possa executá-los, deverá aprender a vocalizar com um instrutor de Yôga formado.
Não se deixe levar por ensinantes leigos. Aprenda com quem faz direito, com um instrutor de Yôga formado. Você pode adquirir também CDs de mantras onde você encontra a entonação correta. A Universidade de Yôga possui vários CDs de mantras.

O ideal é que você não faça práticas unilaterais. Ou seja, fazer uma prática só de mantras ou só de meditação ou só de respiratórios não é recomendável.
O ideal é que você combine várias dessas técnicas e as execute numa única prática. Para você ter uma idéia, o Yôga Antigo possui uma prática completa
com os seguintes elementos: mudrá (gesto feitos com as mãos), pújá (retribuição ética de energia), mantra (vocalização de sons e ultra-sons), pránáyáma (expansão da bioenergia através de técnicas respiratórias), kriyá
(atividade de purificação das mucosas), ásana (técnica orgânica), yôganidrá (técnica de descontração) e samyama (concentração, meditação e hiper-consciência).

Se o seu tempo for curto, prefira uma prática completa onde você executa cada passo por menos tempo do que ficar muito tempo numa única técnica.
Reserve o seu tempo e boa prática.

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