terça-feira, 22 de julho de 2008

Duas chacinas em 24h deixam 8 mortos em Salvador

A Tarde Online

A disputa por pontos de tráfico de drogas em Salvador pode ter sido, segundo suspeita da polícia, o motivo de mais duas chacinas em Salvador neste final de semana, em cerca de 24 horas, deixando oito pessoas mortas e onze feridas.
Quatro pessoas morreram e pelo menos outras oito ficaram feridas, uma em estado grave, em um tiroteio ocorrido na noite do último domingo(20), por volta das 20 horas, no local conhecido como segundo largo da Rua Apolinário Santana, no bairro do Engenho Velho da Federação. O vendedor ambulante Moisés Pereira Machado, aparentemente maior de idade, morreu no local, em frente a um depósito de bebidas, enquanto a maioria dos atingidos estava no Bar do Presidente, inclusive uma mulher de 26 anos.
No início da noite de sábado(19), quatro jovens foram executados, no Bairro da Paz, por cerca de dez homens armados de metralhadoras e pistolas, alguns se identificando como policiais. Outras três pessoas foram atingidas no ataque. Os sobreviventes dos dois ataques foram levados ao Hospital Geral do Estado.
De acordo com uma moradora do Engenho Velho, que não quis se identificar, um dos feridos seria um primo dela, de prenome Nadson, carpinteiro, de 28 anos, atingido na cabeça e na perna. Ele teria sido operado no HGE. No local do tiroteio havia grande número de pessoas, pois é um hábito os moradores se reunirem no bar e arredores ao som de pagode nas tardes e noites dos fins-de-semana. A vítima morta no local, Moisés Pereira, segundo testemunhas, estava vendendo cerveja – próximo ao corpo havia isopor e garrafas quebradas.
Bairro da Paz – No ataque de sábado ao Bairro da Paz foram mortos o doceiro Edmilson Desterro de Oliveira, 20 anos, o barbeiro Henrique Sampaio Souza, 23, o estudante Diego Wellinghton de Assis, 18, e o adolescente Givaldo Santos de Souza, 15 anos. Familiares e vizinhos dos jovens mortos no Bairro da Paz prometeram fechar a Av. Paralela, nesta segunda(21) pela manhã, em manifestação para exigir justiça.
Segundo a investigação feita por policiais da 12ª CP (Itapuã), sob o comando da delegada Francineide Moura, existe a possibilidade de a execução ter sido praticada por um grupo de traficantes do bairro do Garcia, o mesmo que liderou um ataque naquele bairro, último dia 6, com um morto e seis feridos, um deles um tenente da Polícia Militar.
Entre os feridos no ataque está um adolescente de 17 anos. A mãe dele informou que o rapaz foi baleado no abdômen quando se dirigia ao trabalho. Levado ao HGE, passou por uma cirurgia e permanece internado. "Ele está bem, graças a Deus, já está até falando", disse a mulher. Os homicidas deixaram o bairro atirando, passaram na porta do módulo policial, onde estavam de plantão dois PMs, que não ofereceram reação. Ainda feriram Daniel Santos de Souza, 23, e o vigilante Roberto Carlos Santos Silva, 37.
Em poucos minutos viaturas da 15ª Companhia Independente da PM (Itapuã) e da 12ª CP, lideradas pela delegada titular Francineide Moura, chegaram ao local do crime.
“Foi realizada perícia pelo Departamento de Polícia Técnica. Cápsulas foram recolhidas e encaminhadas a exame. Também já começamos a ouvir testemunhas e parentes de vítimas”, explicou a titular, que ontem pela manhã prosseguia com as investigações.
De acordo com informações, há suspeita de que o grupo pode ser o mesmo que atacou jovens, horas antes, em Brotas, uma vez que ocupavam automóveis com as mesmas características dos usados no outro bairro. “A informação está sendo apurada por nossa equipe. Estamos no início das investigações e ainda é muito prematuro afirmar isso”, disse a delegada.
Adolescente – Revoltada com a morte do filho Givaldo Santos de Souza, de apenas 15 anos, Evani Bispo dos Santos aguardava o corpo do garoto ser liberado pelo Instituto Médico Legal, na tarde de ontem. “Meu filho estava na frente da minha casa. Foi comprar um lanche no mercadinho ali perto e quando voltou foi assassinado. Ele ainda chegou a correr, mas não teve jeito”, disse ela, arrasada.
Givaldo cursava a 8ª série e, segunda a mãe, nunca tinha se envolvido com drogas: “Nunca recebi uma queixa dele no colégio, nunca repetiu de ano. Eu quero justiça! É muita crueldade com uma criança inocente, morrer numa situação dessas, sem dever nada a ninguém”.
Desde a chacina do bairro de Mussurunga, no dia 7 de junho, quando sete trabalhadores foram executados a tiros, já aconteceram outras três matanças, totalizando 19 mortos e 15 feridos. É a maior quantidade de execuções em série em tão curto espaço de tempo na Bahia.

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